'À espera de Godot' ganha duas versões na abertura da temporada de teatro
- 11/09/2025
'À espera de Godot', pela Musgo, tem encenação de Paulo Campos dos Reis, que assina a dramaturgia com Jaime Rocha, estreia-se na quinta-feira e será representada em três espaços públicos do concelho de Sintra. A estreia no Teatro do Bairro, em Lisboa, esá marcada para 01 de outubro.
Aqui, o texto clássico de Samuel Beckett (1906-1989) tem encenação de António Pires, a partir da tradução de José Maria Vieira Mendes, e põe em palco um grupo de atores com quem o Teatro do Bairro trabalha frequentemente, todos "com forte veia de comediantes".
"O que vale a pena no trabalho que fazemos é a maneira como se vai metendo pelo corpo dentro, a violência com que se apropria de nós... Foi precisamente o que aconteceu com 'À espera de Godot'", escreve o encenador António Pires, numa "nota de intenções" de apresentação do espectáculo.
O encenador confessa que foi inspirado pela "imagem contemporânea de um estafeta de refeições", que "traça um paralelo entre essa figura urbana e Lucky, o servo de Beckett, ambos presos a uma espera interminável, a uma busca muitas vezes vã".
Para o Teatro do Bairro, a veia de comediantes do grupo de atores com que trabalha é "característica essencial para revelar o lado humano e vulnerável das personagens 'beckettianas', com destaque para Adriano Luz, um ator 'beckettiano' por excelência".
Beckett "rompeu com o teatro tradicional, confrontando o público com questões filosóficas essenciais", exatamente com esta peça, escrita no final da década de 1940 e publicada em 1953. Em contrapartida, 'À espera de Godot' deu ao escritor irlandês o reconhecimento internacional.
A escrita inovadora de Beckett "transformou a miséria da condição humana na sua grandeza artística", escreve a produtora Ar de Filmes, que gere o Teatro do Bairro, lembrando que o autor de teatro, contos, romances, ensaio e poesia foi distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, em 1969.
A ação de 'À espera de Godot' centra-se em dois mendigos, Vladimir e Estragon, reunidos numa longa espera, sob uma árvore. Para passarem o tempo, as duas personagens utilizam diálogos circulares, em que refletem sobre o absurdo, a existência e a própria espera.
Ao longo do tempo, cruzam-se com eles outras personagens que pouco esclarecem a história e a ação, como Pozzo e o seu serviçal Lucky.
"Entre o cómico e o trágico, Beckett constrói uma obra fundamental do teatro do absurdo", do qual, segundo especialistas, se torna num dos grandes representantes, "explorando o vazio e a condição humana diante da espera e da incerteza", frisa a apresentação da obra, pelo Teatro do Bairro.
A protagonizar a encenação de António Pires vão estar também Carolina Campanela, Francisco Vistas, João Barbosa e Mário Sousa.
Com cenário de Alexandre Oliveira, o desenho de luz está a cargo de Rui Seabra, e o de som é de Paulo Abelho.
A versão da Musgo Produção Cultural, que se estreia na quinta-feira, pode ser vista até dia 28, em três largos e pracetas do concelho de Sintra, num espetáculo que os criadores definem como "um diálogo dramatúrgico com os subúrbios".
A criação da Musgo "traz a singularidade de se apresentar na rua, ao ar livre, em diálogo com três espaços públicos (de encontros, desencontros, esperas...)", nas freguesias de Algueirão-Mem Martins, Rio de Mouro e Agualva-Mira Sintra, "territórios densamente povoados do concelho", acrescenta a Musgo.
Com tradução de Francisco Luís Parreira, encenação de Paulo Campos dos Reis, que assina a dramaturgia com Jaime Rocha, a estreia decorrerá na Praceta de Damão (Antigo Mercado de Fanares, em Mem Martins), onde regressa até dia 14, inclusive.
Na Praceta Sacadura Cabral, em Rio de Mouro, será representada de 18 a 21 de setembro, exceto no dia 19. E em Agualva Mira-Sintra, o espetáculo decorrerá no Largo da República, de 25 a 28 de setembro.
Todas as sessões têm início às 21h30 e entrada livre.
A representar a criação da Musgo estão André Pardal, António Mortágua, José Redondo, Lukyan Antunes e Philippe Araújo.
A cenografia é de Paula Hespanha e os figurinos de Artur de Campo. No apoio vocal está Nuno Cintrão e, no desenho de luz, Paulo Campos dos Reis.
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