ACNUR pede mais apoio internacional no regresso de refugiados da Síria
- 07/12/2025
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de três milhões de sírios deslocados voltaram ao seu país após a queda do regime, em 08 de dezembro de 2024.
Mas, ressalvou a organização num comunicado, para "manter esta tendência e garantir a estabilidade", é "necessário um maior apoio internacional".
"Esta é uma oportunidade única para ajudar a pôr fim a uma das piores crises humanitárias do mundo", afirmou o alto comissário, Filippo Grandi, frisando, no entanto que "sem apoio internacional urgente, esta janela de esperança fechará".
"Os sírios estão prontos para reconstruir -- a questão é se o mundo está pronto para ajudá-los a fazê-lo", adiantou Grandi.
Os dados da agência das Nações Unidas apontam que mais de 1,2 milhões de sírios regressaram voluntariamente desde dezembro de 2024, juntamente com mais de 1,9 milhões de pessoas deslocadas internamente que voltaram às suas áreas de origem.
Segundo o ACNUR, muitos refugiados sírios têm demonstrado vontade de regressar ao país agora governado pelo Presidente interino, Ahmad al-Sharaa.
"A deslocação forçada foi uma das feridas profundas infligidas pelo conflito, e o regresso é fundamental para pôr fim a anos de sofrimento e garantir a estabilização", afirma a agência da ONU.
O organismo tem facilitado os regressos voluntários dos países vizinhos de modo a garantir que são "dignos e sustentáveis".
"O apoio inclui assistência financeira, transporte e aconselhamento sobre a documentação civil necessária para facilitar a reintegração", explicou o ACNUR.
Desde o início de janeiro, apenas um mês após a ofensiva relâmpago que ditou o fim do regime e colocou um fim a 14 anos de guerra civil, o ACNUR intensificou as suas atividades nos países vizinhos da Síria.
A agência registou o regresso de 170.000 sírios da Jordânia no último ano, dos quais pelo menos 24.000 foram assistidos pelo ACNUR.
Já no Líbano, o ACNUR acompanhou o regresso de cerca de 379.000 sírios até ao final de novembro, enquanto no Egito e na Turquia quase 28.000 e 560.000 sírios regressaram desde 08 de dezembro de 2024, respetivamente.
Apesar destes dados, a ONU estima que aproximadamente 4,5 milhões de refugiados sírios permanecem em países vizinhos, a maioria "vivendo abaixo da linha da pobreza", e lamenta a falta de financiamento que enfrenta e que vai afetar o apoio a estas pessoas.
"O apelo de 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,3 mil milhões de euros) da ACNUR para 2025 para a situação na Síria foi financiado em apenas 33%, deixando milhões de pessoas sem abrigo adequado, serviços básicos e apoio para o inverno que se aproxima", acrescenta o comunicado, sublinhando a importância desse financiamento para garantir a proteção e a ajuda humanitária.
Na quarta-feira, uma delegação do Conselho de Segurança da ONU fez a sua primeira visita à Síria, numa deslocação descrita como histórica por Damasco e que serviu para reafirmar o apoio à soberania síria.
A Síria é atualmente presidida interinamente por Ahmad al-Sharaa, que liderou a coligação de grupos rebeldes que derrubou o regime de al-Assad.
O antigo presidente, que tinha herdado o regime fundado em 1971 pelo pai, Hafez al-Assad, fugiu na altura para a Rússia, que lhe concedeu asilo político.
O novo Governo interino sírio tem procurado dialogar com a comunidade internacional e tem tentado unir o país muito fragmentado.
A Síria foi palco de uma guerra civil que foi desencadeada em março de 2011 pela violenta repressão, pelo regime de al-Assad, de manifestações pacíficas.
O conflito civil, que provocou milhares de mortos e milhões de deslocados e refugiados, ganhou uma enorme complexidade ao longo dos anos, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos jihadistas, e várias frentes de combate.
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