Dez países, incluindo Portugal, vão reconhecer Estado da Palestina na 2.ªfeira
- 19/09/2025
Nessa conferência, estarão representados "dez países que decidiram proceder ao reconhecimento do Estado da Palestina", indicou um conselheiro do Presidente francês, Emmanuel Macron, à comunicação social.
Além de França, que está por detrás da iniciativa, e de Portugal, os outros Estados "são Andorra, Austrália, Bélgica, Canadá, Luxemburgo, Malta, Reino Unido e São Marino", acrescentou.
Fontes do Eliseu defenderam hoje que é "urgente" salvar a solução dos dois Estados, um Estado palestiniano ao lado de Israel, em coexistência pacífica nas fronteiras internacionalmente reconhecidas desde 1967, porque é a única alternativa à "guerra permanente".
Para formalizar este reconhecimento, Emmanuel Macron proferirá um discurso na segunda-feira, pelas 15:00 de Nova Iorque (20:00 de Lisboa), durante a conferência a que copresidirá com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
Este último, "de acordo com as últimas informações de que dispomos, intervirá por videoconferência", precisou uma fonte francesa.
Israel não tem parado de contestar o reconhecimento por países estrangeiros de um Estado da Palestina (148, até agora), argumentando que não haverá Estado palestiniano e que tal recompensa o Hamas, o movimento islamita palestiniano que levou a cabo, a 07 de outubro de 2023, em território israelita o ataque de proporções sem precedentes (cerca de 1.200 mortos e 251 reféns) que desencadeou, horas depois, a guerra na Faixa de Gaza que já fez mais de 65.000 mortos e de 165.000 feridos, na maioria civis.
As fontes francesas justificam o facto de este reconhecimento só acontecer agora e ter demorado quase dois anos desde o início da guerra em Gaza, com o facto de a situação atual constituir um ponto de viragem que coloca muitos perigos.
Num contexto de "incerteza" e de "questionamento" das principais normas do Direito Internacional, mesmo por parte de alguns dos principais atores do sistema internacional, França considera que a alternativa é fazer o que é necessário para que a solução dos dois Estados seja bem-sucedida, porque, caso contrário, o Médio Oriente irá oscilar para "mais dificuldades, mais tragédias".
Na perspetiva de Paris, outra das duas principais mudanças nestes dois anos que justificam o reconhecimento do Estado palestiniano é que "os objetivos declarados de Israel" mudaram com a sua ofensiva à cidade de Gaza, mas também com o salto dado pelo Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apoiado pela extrema-direita, na colonização da Cisjordânia.
Responsáveis israelitas ameaçaram abertamente França com represálias diplomáticas, bem como com a anexação da Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, caso Paris avançasse com o reconhecimento do Estado palestiniano.
"A nossa agenda é positiva. Não é uma agenda de represálias e contra-represálias. Estamos a fazer um esforço de paz", foi a resposta do Palácio do Eliseu à possibilidade de medidas de retaliação israelitas.
Por outro lado, "a anexação da Cisjordânia é uma clara linha vermelha", acrescentou a presidência francesa.
"É obviamente a pior violação possível das resoluções das Nações Unidas", sustentou, acrescentando que até à data não foi nem "confirmada" nem "posta em prática".
"O essencial é tomar hoje todas as medidas possíveis para preservar a solução dos dois Estados. Evidentemente, a anexação da Cisjordânia seria uma das medidas que comprometeria mais gravemente essa perspetiva", advertiu a comitiva de Macron.
De facto, embora a declaração de Macron na segunda-feira não especifique o que este reconhecimento abrange, a posição francesa a este respeito tem sido constante no sentido de que a legalidade internacional é a estabelecida pela ONU em 1967, que estabeleceu a demarcação entre Israel e a Palestina com a possibilidade de troca de territórios "equivalentes".
Paris insiste que "a urgência absoluta é um cessar-fogo" e que a dinâmica atual traduz, de facto, o isolamento internacional de Israel, que espera que ajude as autoridades israelitas, com as quais não tem intenção de romper relações e com as quais continua a dialogar, a refletir.
França, que desde 1995 reconheceu a sua responsabilidade no Holocausto judeu, sublinha que considera Israel um parceiro na região, mas quer envolvê-lo num eventual futuro processo de paz, como fez também com outros países árabes.
Pretende continuar a convencer os israelitas, os parceiros que lhe "são mais próximos, historicamente e por razões de amizade intangível, indiscutível", dos méritos da sua iniciativa, garantiu a mesma fonte francesa.
Segundo fontes do Eliseu, estes aliados árabes, bem como 142 países no total, assinaram a declaração de Nova Iorque sobre a solução de dois Estados, que inclui o compromisso de desarmar o Hamas e a intenção de lhe retirar todo o controlo da Faixa de Gaza e de o entregar à Autoridade Palestiniana, que, por seu lado, está empenhada em reformar a sua governação.
[Notícia atualizada às 20h45]
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