Polisário recusa negociações que visem "legitimar ocupação marroquina"
- 27/10/2025
Num comunicado enviado à agência Lusa, o movimento de libertação sarauí rejeitou novamente a proposta de maior autonomia apresentada por Marrocos em 2007 e reafirmada hoje pelos Estados Unidos, e garantiu que não aceita privar o povo sarauí do "direito inalienável, não negociável e imprescritível à autodeterminação e à soberania sobre a sua pátria".
"A Frente Polisário reafirma energicamente que não participará em nenhum processo político ou negociação baseado em propostas, independentemente da sua origem, que tenham por objetivo 'legitimar' a ocupação militar ilegal do Saara Ocidental por Marrocos e privar o povo sarauí do seu direito inalienável, não negociável e imprescritível à autodeterminação e à soberania sobre a sua pátria", afirma a Polisário.
O comunicado do movimento liderado por Brahim Ghali, também presidente da República Árabe Sarauí Democrática (RASD), surge no mesmo dia em que os Estados Unidos defenderam que as partes envolvidas no conflito do Saara Ocidental comecem "discussões sem demora", tendo como "única base" o plano de autonomia marroquino para a antiga colónia espanhola.
A posição da diplomacia norte-americana e o comunicado da Polisário surgem nas vésperas de uma votação, no Conselho de Segurança da ONU, sobre a continuidade da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (MINURSO), em que é proposta a renovação do mandato, que termina a 31 de outubro, por mais seis meses ou um ano.
"O Presidente [Donald] Trump deixou claro que todas as partes devem envolver-se em discussões sem demora, utilizando o plano de autonomia de Marrocos como a única base para uma solução justa e duradoura para o diferendo", afirmou à agência espanhola Europa Press um responsável do Departamento de Estado norte-americano.
Os Estado Unidos estão a trabalhar no projeto de resolução que será submetido a votação na quinta-feira no Conselho de Segurança. Segundo avançaram alguns meios de comunicação social, o texto final apoia as posições de Marrocos e o plano de autonomia, propondo uma renovação do mandato por apenas seis meses, e não por um ano, como tem sido habitual até agora.
Na semana passada, numa carta enviada ao embaixador russo junto das Nações Unidas, a Polisário advertiu que, se o texto for aprovado tal como está, não participará em qualquer negociação promovida pela ONU com base nesse documento e cessará a sua cooperação com a MINURSO.
A Rússia assume a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU durante o mês de outubro
Numa recente entrevista à estação norte-americana CBS, o enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkooff, afirmou que a administração republicana norte-americana está "a trabalhar neste momento em Marrocos e na Argélia", pois Argel apoia as Polisário.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, assegurou em abril passado, após reunir-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Burita, que o plano de autonomia é a "única base" para resolver o conflito, reiterando a necessidade de diálogo entre as partes e sublinhando que Washington está disposto a facilitar progressos nesse sentido.
A ex-colónia espanhola é considerada um território não autónomo em processo de descolonização, sobre o qual os sarauís pedem a realização de um referendo de independência, definido pelas partes em 1991, enquanto Marrocos defende uma maior autonomia da região sob soberania marroquina.
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