Qatar tem o direito de responder a "agressão flagrante" israelita
- 10/09/2025
"Somos um Estado mediador em negociações formais (...) Estamos a receber uma delegação de um Estado que envia mísseis contra outra delegação de outro Estado com o qual supostamente estão a negociar. Como é que isto pode ser moralmente aceitável?", questionou o primeiro-ministro Mohammed Bin Abdulrahman al Thani, durante uma conferência de imprensa.
O governante catari alertou ainda que "o Estado do Qatar não tolerará qualquer violação da sua soberania e reserva-se o direito de responder firmemente a esta agressão flagrante" ou a qualquer ameaça à "segurança ou estabilidade regional".
Um ataque aéreo israelita visando o chefe da delegação de negociadores do Hamas, Khalil al-Hayya, em Doha, fez hoje pelo menos seis mortos, segundo o movimento islamita palestiniano e as autoridades cataris.
O Governo do Qatar confirmou que Israel tinha atacado uma reunião de "vários membros do gabinete político do Hamas", num edifício residencial.
O Hamas sublinhou, em comunicado, que cinco dos seus membros foram mortos no ataque israelita em Doha, embora nenhum deles fizesse parte da sua delegação para as negociações.
Um membro das forças de segurança do Qatar, Bader Saad Mohamed al-Humaidi al-Dosari, também morreu, segundo o Ministério do Interior do Qatar, enquanto vários agentes de segurança do Qatar ficaram feridos.
"Isto só pode ser uma ameaça. A forma como somos tratados, de onde vem, não é uma surpresa", sublinhou ainda o primeiro-ministro do Qatar.
Al-Thani negou ainda que os EUA tenham informado o seu país sobre o ataque israelita ao Hamas em Doha antes da sua ocorrência, apontando que as autoridades norte-americanas notificaram o Qatar dez minutos depois, enquanto as armas utilizadas não foram detetadas pelo radar de defesa aérea do Qatar.
"Este é um comportamento sistemático. Enquanto alegam estar a tentar estabilizar a região, fazem o contrário: destabilizam-na, para atingir os seus próprios objetivos. Apesar disso, e apesar de Israel enviar uma delegação, têm trabalhado para impossibilitar qualquer acordo", analisou ainda.
Al-Thani realçou que as negociações estavam "no bom caminho" nos últimos dias, revendo a proposta apresentada pelos Estados Unidos.
A operação israelita em Doha foi condenada pela unanimidade dos países da região e pode ameaçar os esforços de paz promovidos por Estados Unidos, Egito e Qatar.
O ataque ocorre numa fase em que os militares israelitas se prepararam para ocupar a Cidade de Gaza e expulsar centenas de milhares dos seus habitantes, numa região do enclave que a ONU já declarou enfrentar uma situação de fome.
No centro das negociações entre as partes está a pausa das hostilidades, o desarmamento do Hamas e a libertação de 48 reféns que os militantes palestinianos conservam há quase dois anos, dos quais se estima que 20 estejam vivos.
Após os ataques de 07 de outubro de 2023, Israel lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou acima de 64 mil mortos, na maioria mulheres e crianças, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo islamita, destruiu a quase totalidade das infraestruturas do território e provocou um desastre humanitário sem precedentes na região.
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