"Representamos uma rutura geracional com o passado recente do Benfica"

  • 10/09/2025

Há cerca de um ano, e ainda sem uma data oficial definida, surgiu o primeiro candidato às eleições para a presidência do Benfica. João Diogo Manteigas, de 42 anos, abriu caminho para o que é um leque de seis concorrentes ao ato eleitoral do próximo dia 25 de outubro.

 

Formado em Direito, o advogado, que se especializou na área do direito do desporto, construiu uma carreira a pulso na área desportiva e acredita ter reunidas as condições para conseguir chegar ao posto com que tanto sonhou.

A pouco mais de um mês do ato eleitoral no clube da Luz, João Diogo Manteigas concedeu uma extensa entrevista ao Desporto ao Minuto. O advogado, que lidera o movimento Benfica Vencerá, mostrou-se preocupado com o estado atual do clube e sublinhou que Rui Costa falhou nestes quatro anos de presidência.

Qual a razão para ter apresentado esta candidatura à presidência do Benfica?

São questões pessoais, de enquadramento profissional e de interesse. Já há 18 anos que trabalho quase inteiramente dedicado a esta área. Tenho experiência. Sempre me relacionei com clubes, treinadores e jogadores. Fiz a minha formação, especificamente também na área, com o interesse de, um dia mais tarde poder, de alguma forma, executar tudo aquilo que eu sei. Ao longo da minha vida, fui-me formando, especificamente, na área de direito e de gestão desportiva. Fui trabalhando desde muito cedo com isto, sempre com o intuito de, um dia, apresentar a minha candidatura ao Benfica, e obviamente sabendo que a vida teria que me permitir esse enquadramento. A nível pessoal, consegui com que isso acontecesse. E depois, sendo muito concreto, tem a ver com o momento que o Benfica está a viver de há uns anos a esta parte. É evidente que o clube falhou em vários aspetos: desportivamente, institucionalmente, internamente e em termos de gestão. 

Segmentando, diria que eu tenho plena noção que consigo fazer mais e melhor com menos. Ou seja, com as pessoas que eu conheço, com as pessoas que eu tenho para trabalhar comigo. Tenho plena noção de que consigo fazer melhor, até em termos de gestão desportiva. Acho que, institucionalmente, o Benfica tem que ser gerido de outra maneira, defendido de outra maneira. Há aqui alguns requisitos que nós entendemos que têm de ser cumpridos. Acho que consigo fazer mais e melhor, como eu disse, com menos, com ilustres benfiquistas, mas desconhecidos. Pessoas competentes, especializadas, com experiência na área e com muita paixão também. Porque isto aqui, no desporto, é preciso também muita paixão. O tal amor à camisola, mas consciência. Não o mero adepto de bancada. A irracionalidade faz parte do futebol, mas quando se está a representar um clube, ou, enfim, uma federação, uma associação, tem de haver alguma noção. Com a experiência vim a perceber isso. Quando era mais novo fervilhava muito mais. Hoje em dia sou muito mais consciente das coisas. 

Depois há aqui questões que são, diria, sentimentais e que têm uma sensibilidade muito acrescida. É a questão dos títulos. O Benfica entrou numa fase em que ganhava, que coincidiu com o tetra, para depois um problema que é chamado de penta. Esta fase teve uma gestão mais pessoal, mais personalizada do que propriamente de entidade. Depois dá-se a detenção de um presidente em funções. De 2021 para a frente, que é o que me interessa neste momento avaliar, porque não fazer tanto e buscar fantasmas do armário do passado, foi um falhanço a nível institucional, desportivamente à cabeça. O Benfica deixou de ser um clube ganhador e eu recuso que seja instalada uma cultura de derrota num clube que tem 121 anos de história. O esqueleto do clube, a mensagem que os antepassados passaram para nós e que eu passo para o meu filho, é a de um clube ganhador. Tenho que provar que o clube ganha e continua a ganhar. Instalou-se uma cultura de derrota no Benfica e isso prova-se pela ausência de títulos, mesmo com a Supertaça deste ano. Acho que há aqui uma ausência de exigência desportiva. Depois nota-se que o Benfica, com algumas dificuldades, consegue lutar até ao fim.

No que é a sua candidatura difere das restantes das restantes cinco?

Não conheço ainda muito bem as outras candidaturas na sua extensão total. Mas, genericamente, daquilo que deduzo que vá ser apresentado por Rui Costa, e Luís Filipe Vieira e do que já foi apresentado pelo João Noronha Lopes, sou claramente uma rutura geracional e com o passado. Na candidatura do Rui Costa assumo que se vai manter muita gente, sabendo de antemão que um ou outro não irá continuar. Do Luís Filipe Vieira deduzo que seja um regresso ao passado. O Cristóvão Carvalho ainda não apresentou a equipa. O Martim Mayer apresentou o presidente da Mesa da Assembleia Geral e que eu não conheço. Sobre o João Noronha Lopes, já vi alguns nomes associados. Mas voltou a sublinhar, sou uma rutura completa com o passado.

Há uma necessidade de acabar com uma visão que é o trading no Benfica. O Benfica é um interposto de jogadores assumido. É verdade que o modelo de futebol em Portugal é de compra e venda de jogadores, é um modelo sustentável de receitas extraordinárias, é assim que é visto. Mas não podemos exagerar desse ponto de vista. Não sei se esse será o objetivo com as outras candidaturas. Em termos de pessoas, somos uma rutura com o passado. Em termos de projeto, eu entendo que tenho um projeto mais válido, mais sustentável e com as pessoas mais adequadas para o efeito. Portanto, é aqui uma questão de comparação que eu acho que só vai ser visto com debates entre todos.

Quando é que nasceu o desejo de ser presidente do Benfica?

O meu pai era jornalista desportivo desde sempre. Eu nasci e convivi no meio. À medida que fui crescendo, nunca fui um fã dos jogadores ou dos treinadores. Para mim era o clube e os dirigentes. Eu convivia com o meu pai no meio dos dirigentes, aquilo que mais me interessava era a visão que os dirigentes queriam aplicar nos clubes e não só no Benfica. Tive o prazer de conhecer dirigentes da FIFA e da UEFA. Adorava aquela sensação de gestão. Isto é um conglomerado, a visão de um grupo de pessoas, e depois é replicado pelos seus recursos humanos, pelo treinador, pelo staff, pelo scouting. Isto foi uma coisa que sempre me interessou muito e me fascinava Daí que, para mim, os grandes, não vou dizer ídolos porque também não tive o prazer de conhecê-los, tirando o Eusébio, eram sempre os presidentes. O Benfica tem uma história de presidentes inacreditáveis. O Ferreira Bogalho, o Maurício Vieira de Brito, que era uma pessoa muito rica e que investiu muito no Benfica e com sucesso. O Benfica foi campeão europeu e o Fezas Vital beneficiou desse investimento.

Mas há, por exemplo, um presidente da história do Benfica que ninguém fala e que é o Manuel da Conceição Afonso, que era operário. O Benfica tem uma história rica de dirigentes que, a nível histórico, deixaram sempre o Benfica lá em cima. A exigência dos benfiquistas é quererem sempre mais. Isso fascinava-me. Tive o prazer de conhecer o João Santos e o Jorge Brito quando era miúdo. O pai meu era muito amigo dos dois. Vivia aquilo sem que as outras pessoas, na altura, tivessem informação condigna sobre isto. Aquilo entrava-me, eu ficava a pensar naquilo, analisava a forma como eles faziam as coisas e não me interessava tanto a questão tática dos jogadores. Havia coisas que eu achava engraçado, como, por exemplo, o pós-jogo.

Sempre me foquei muitos nos dirigentes e acho que isso fez com que eu, mais tarde, quando me formasse, enquanto estava a estudar, já estivesse a trabalhar com os jogadores. Logo, imediatamente, no último ano Direito, já estava a trabalhar com os jogadores. Eram poucas as pessoas que ajudavam na parte específica dos contratos, recuperação de créditos, de dinheiros que receberam de outros clubes. E tudo isto numa altura em que o direito desportivo não era muito desenvolvido em Portugal. Na altura era o mais novo de um grupo muito curto. Já conhecia jogadores e treinadores. Hoje em dia tenho muitos empresários que são clientes. Fui advogado de Federações, fui dirigente desportivo. Ganhei uma experiência tal de representatividade que, mais tarde, me leva a pensar que, talvez, um dia seria muito interessante se eu me conseguisse representar a eleições no Benfica.

Tenho conhecimento da área grande a nível de gestão, do scouting. Tenho conhecimentos das relações institucionais entre a Federação, a Liga, as associações, a UEFA, a FIFA, as outras confederações. Tudo isto me levou, aliado ao conhecimento interno que tenho do Benfica e que é grande e que os outros candidatos reconhecem em mim, a que entendesse que tinha todas as condições para avançar.

Qual seria a primeira medida que implementaria no Benfica caso seja eleito?

São várias, não uma. Temos de implementar imediatamente o modelo desportivo que temos previsto, que é o modelo de otimização de gestão do valor de mercado da equipa, que é aplicado também nas modalidades. Também me interessa avançar com a auditoria forense no imediato. Não é uma caça às bruxas, mas este é um ato completamente normal. Quando algum cliente compra uma empresa, a primeira coisa que faz é um due diligence. Temos de perceber de que forma é que o Benfica tem vindo a operar ao longo dos últimos anos, que procedimentos é que adotou, com que critério e de que forma o fizeram. É assim que percebemos como tem vindo a ser feita a operação. Se encontramos uma coisa que funciona mal, entendemos que devemos corrigir.

São cerca de 25 anos de uma gestão que eu diria muito aproximada e em que não foram feitas grandes mudanças. Temos de perceber, até onde pudemos, o que funciona bem e que é para aproveitar e exponenciar, e o que é que funciona mal, porque é que funciona mal e se conseguimos mudar. As pessoas perguntam: 'Se encontrar alguma coisa de errada, o que faz?'. Temos de apresentar ao Ministério Público, tal como o Laporta fez nas últimas eleições do Barcelona. Fez uma auditoria forense com uma consultora inicial e, depois, com uma outra consultora internacional, e entregou o papel ao Ministério Público. Não quero acreditar que isso vá acontecer no Benfica, mas é um ato de gestão normal.

Depois quero desencadear reuniões com a Federação e a Liga para percebermos algumas definições que estão a ser feitas agora. Temos também propostas para apresentar a outras SAD's, como a alteração dos quadros competitivos, saber qual é o modelo dos direitos audiovisuais que a Liga apresentou na ADC.

E qual o plano para a estrutura do Benfica? Tem em vista um nome para o cargo de diretor desportivo?

Temos os vice-presidentes com os seus pelouros. O vice-presidente para as modalidades vai ser apoiado por um diretor-geral desportivo e um diretor-geral de operações que já estão escolhidos. Na SAD, não vou avançar com nomes. Há pessoas com contratos de trabalho, não posso fazer isso. Se ganhar as eleições, serão apresentados. A SAD vai ter um organograma diferente. Tem o Conselho de Administração, tem vários administradores. Haverá o habitual braço direito para economia e finanças, e haverá o jurídico.

No futebol propriamente dito, vai haver um diretor desportivo para as equipas profissionais (A, B e sub-23) e um diretor-geral desportivo para o Benfica Campus. No Seixal têm de ser alterados alguns procedimentos e feito um rejuvenescimento de pessoas. Os dois diretores desportivos vão trabalhar um com o outro. O nosso modelo desportivo implica uma aposta muito forte e intensa na formação. Precisamos que os dois se entendam, em conjunto com o diretor desportivo para o Campus. E queremos aproveitar o que de bom há por lá, que são os diretores técnicos e os coordenadores para percebemos melhor como está o estado atual dos Centros de Formação e Treino, dos polos. Temos de perceber como é que está a funcionar hoje em dia porque não basta olhar para o papel, temos de perceber na prática como é que está a acontecer.

Presumimos, portanto, que, ao contrário do que tem sido feito recentemente, o seu objetivo passa por construir uma equipa com uma base forte de aposta na formação?

Sem dúvida. Vou dar um exemplo. O Florentino saiu, o Tiago Gouveia saiu, o João Rego é uma incógnita, o João Veloso não joga, o Leandro Santos não é aposta... O Benfica continua a contratar muito e caro. Não está em causa o valor dos jogadores, até porque o Benfica contratou bons jogadores neste mercado. O Dedic é um grande jogador; o Barrenechea é interessante, apesar de estar por empréstimo; o Ríos, pelo preço que foi, estou à espera de mais; o Ivanovic também é bom jogador e conheço pouco do extremo-direito que contrataram ao Sevilla. O Sudakov também é um grande jogador.

O nosso modelo desportivo vai ter em conta aquilo que é a matriz do Benfica. Para mim, o que caracteriza o Benfica são três grandes princípios. O primeiro é o associativismo. O Benfica é um clube de Portugal com mais de 400 mil sócios. Nenhum clube no mundo, num país mais desenvolvido do que Portugal, tem uma coisa deste género. A segunda tem a ver com a formação. O Benfica sempre foi um clube formador. Apostando ou não apostando, é um clube formador e o sucesso está à vista na seleção sub-17. O terceiro é o ecletismo. O Benfica é um clube eclético. É visto e reconhecido no mundo como eclético e por género, ainda por cima. Estas são as três grandes marcas do Benfica.

Dentro da formação, o Benfica não tem aproveitado como devia. Ou seja, vende jogadores de formação, e até vende bem, mas vende um jogador pouco desenvolvido e o objetivo é exatamente o contrário. O objetivo é apostar na formação, mas no período essencial não ser vendido. No período essencial entende-se, por norma, que é entre os 21 e os 23 anos. Se o jogador tiver de sair, tem de ser vendido como um produto finalizado e não como um projeto de jogador que o Benfica ainda pode usufruir desportivamente como foi o caso do João Neves. O que eu ouvi quando disse que era contra a venda do João Neves, insultaram-me de toda a maneira. E depois ele marca três golos, dois deles de pontapé de bicicleta. 

O Benfica não aproveita o momento essencial da formação dos jogadores. Na equipa A, não há exemplos de jogadores para fomentarem o interesse dos outros que estão abaixo deles continuarem no Benfica. Nós já temos de lidar hoje em dia com uma realidade que é a dos pais e dos empresários e que fazem o papel deles. Os pais querem o melhor para os filhos e os empresários querem o melhor para os seus clientes O Benfica tem de combater com esta legitimidade negocial e, ao mesmo tempo, provar que consegue competir financeiramente com aqueles que querem contratar e dar melhores condições desportivas noutros campeonatos. Ao mesmo tempo, tem de provar que há lugar para eles na equipa principal. O Benfica não tem feito isso. Somos um clube formador, mas não permitimos que um jogador, no topo da sua formação, seja aposta desportivamente. Isso é um prejuízo financeiro.

O futuro do Benfica, aliando o sucesso desportivo com a necessidade e a sustentabilidade financeira, passa exatamente pela aposta de formação. Se apenas quero ter jogadores da formação no plantel? Não. O Benfica sempre foi um clube que contrata bem lá fora, como no Brasil, na Argentina e até na Sérvia. O Benfica deve continuar a contratar criteriosamente, mas o objetivo é deixar de contratar tanto, de pagar tanto por os jogadores e apostar mais na formação. Se o clube investe muito dinheiro na formação, temos de provar que eles vão ter lugar lá em cima. Eu só provo que eles têm lugar lá em cima se eu tiver alguém lá em cima. Se nenhum jogador da formação não joga na equipa principal, como é que eu vou conseguir provar aos miúdos de baixo que vão ter um lugar em cima? Não consigo.

Este foi um mercado eleitoralista por parte de Rui Costa?

Diria que sim, tendo em conta que, nos últimos quatro anos, não fez tantas contratações de uma vez como fez agora. A inflação no futebol vai sempre existir. Olho para os outros clubes que competem com o Benfica e vejo que pagaram caro. No meu ponto de vista clínico, acho que há movimentações fora do normal. Eu gosto muito do Sudakov, mas não pago 20 e tal milhões de euros por ele ao Shakhtar. Portugal não é um campeonato competitivo e Ucrânia também não é. O preço pelo Sudakov é um investimento muito elevado. Há uma alternativa e o Benfica deveria explorar mais isso. O Benfica não quer falhar e paga o preço por não querer falhar. Mas também já pagou esse preço e falhou, como o Arthur Cabral, o Tengstedt ou o Kokçu. Há jogadores que não singraram. Mas nunca houve tanto dinheiro gasto.

Outro exemplo. O Benfica vende o Kokçu e o Arturkoglu para a Turquia. Este é um mercado que demora muito tempo a pagar e às vezes não paga. A venda dos jogadores para mercados emergentes às vezes não é boa. Não exijo que os outros candidatos saibam isto, mas sei que o Rui Costa sabe disto. Mas tem a ver com necessidades financeiras e de gestão desportiva. O Kokçu era um jogador que obviamente não poderia ficar no Benfica este ano, sobretudo depois do que aconteceu no Mundial de Clubes. O Arturkoglu saiu por uma questão familiar. Mas o investimento é grande e é inevitável ligá-lo às eleições. Há um toque eleitoral para que nada falhe até ao dia 25 de outubro.

O Benfica tem de ter um plantel alargado para falhar o mínimo possível. Esta gestão destas contratações é um misto. Mexe não só com os resultados desportivos, mas também com as questões eleitorais. Se o Rui Costa estiver a perder, pode perder mais votos. Não é um critério fundamental, mas é um critério. O momento desportivo pode interferir, mas não acho que seja a interferência.

Mas este tipo de reforços captam votos?

As eleições deste ano são muito diferentes. Hoje em dia, as pessoas têm acesso a muito mais informação. Procuram e debatem essa informação. Por isso é que eu acho que o critério do perder e do ganhar não é o maior critério. Pode ser para uma pessoa de idade, que não procura tanto, mas não para os mais jovens. O que eu tenho testado em quase um ano de candidatura é que debatem connosco com propriedade. Ou seja, as pessoas debatem com factos, com números, com estatísticas dos últimos quatro anos. Se eu acho que isto é um critério para as pessoas votarem noutra pessoa que não não incumbente, acho que sim. É reconhecido que houve um falhanço em quatro anos. Há uma tolerância muito baixa, quase nenhuma, para se passar uma carta verde e se voltar a correr o risco e isto se repetir outra vez. Esse é o verdadeiro critério.

Rui Costa fez bem em apostar em empréstimos com compra obrigatória que podem vir a ser assumidos por outro presidente no próximo verão?

As eleições são do clube e não da SAD. Obviamente que a herança tem um fardo muito grande. O Benfica é um mundo muito grande, é uma máquina absolutamente grande. Não estou minimamente preocupado com aquilo que eu vou herdar no futebol, porque, felizmente, trabalho no futebol há 18 anos e sei muito bem aquilo que eu vou herdar. Sei como é que faço para aliviar essa carga. A minha preocupação não está tão centrada no futebol, está mais centrada ao nível financeiro e ao nível do clube. Financeiro porque o Benfica efetivamente tem questões que têm de ser imediatamente estabilizadas.

Nos últimos quatro anos, o Benfica diminuiu 5% as receitas operacionais, aumentou 18% dos custos operacionais, aumentou em 24% o passivo, 40% a dívida bancária e 58% as dívidas a sociedades desportivas. Por mais que estes números estejam ligados ao futebol, estão também relacionados com outras coisas. O Benfica tem uma BTV, tem custos operacionais com o estádio, tem os FSE's. Estou mais preocupado com ter que aumentar as receitas para diminuir as despesas e os custos e ter aqui um saldo positivo de resultado acumulado, do que com a gestão propriamente dita do futebol porque isso é a minha área. Os meus dois diretores desportivos vão trabalhar comigo e o vice-presidente da área financeira vai trabalhar comigo para resolver essa dívida que pode ser ainda mais pesada se não ganharmos. Acho que o futebol consegue-se gerir e resolver.

Agora, há aqui questões, ou decisões, que eu acho que vão ser tomadas até o dia 25 de outubro, mais relevantes. Por exemplo, para o ano termina o último ano de contrato dos direitos audiovisuais com a NOS. Vai renovar agora até o dia 25 de outubro sim ou não? Eu acho que isso é uma medida que Rui Costa não devia adotar. Estou curioso para saber se até o dia 25 de outubro vai anunciar a renovação por mais dois anos dos direitos audiovisuais. A centralização, a ser executada, é só em 2028. Significa que o Benfica ainda vai vender os seus direitos em mais duas épocas. Outra que não devia fazer é assumir alguma decisão relativamente aos direitos audiovisuais em grupo, na Liga. Tudo o que são decisões política e de gestão que vão comprometer o Benfica para a frente acho que não devem ser adotadas. 

Relativamente ao futebol, acho que isso resolve-se. Vende-se um jogador, compra-se outro. Temos dois mercados por ano. Quem ganhar as eleições tem o mercado de janeiro para readaptar. Podem-se fazer vendas para mercados emergentes. A Arábia Saudita está em grande. A Turquia continua a contratar. Não tenho medo disso e não me preocupo. Preocupo-me sempre com outras coisas, como é questão da sustentabilidade das modalidades e dos patrocínios. Acho que tem que ser feito alguma coisa em termos de reestruturação.

E que outras fontes de financiamento tem em mente?

Outra coisa que não deve fazer é vender o naming do estádio. Isso deve ser feito por quem ganhar as eleições. Imagine-se que Rui Costa arranja um valor de X e eu arranjo um valor Y e que é superior. São políticas que devem ficar em suspenso, em termos de negociações, para mais tarde. O objetivo é como noutra empresa qualquer. As receitas têm de ser superiores aos custos. O Benfica tem forma de aumentar essas receitas e sem financiamento externo. O Benfica é uma máquina que consegue reestruturar-se para ser autossustentável. Com todo o respeito pelo Cristóvão Carvalho, eu não preciso de ter um financiamento de 400 milhões de euros. Posso vir a precisar mais tarde, mas, entrando no Benfica, consigo equilibrar minimamente, nos próximos dois anos, e depois sim, eventualmente, ir buscar um investidor para, com um plano estratégico, investir em determinada coisa. Seja provas europeias ou para o futebol feminino, que quero tornar autónomo e independente.

Até lá, nós conseguimos reestruturar aquilo que é o plano económico-financeiro e ainda desportivo. No plano financeiro, há receitas que podem ser exponenciadas. Acho que a Adidas pode ser repensada e os direitos audiovisuais vão ser essenciais também. Estes últimos implicam várias alterações. Na minha visão, os direitos audiovisuais estão ligados, necessariamente, à alteração dos quadros competitivos. Este era um passo que estava a ser feito desde 2007. Nós tínhamos reduzido para 16 clubes. Só que aconteceu o caso do Gil Vicente do Boavista e voltámos aos 18 clubes.

Em Portugal, tenho a certeza de várias coisas. Uma delas é que o futebol não é sustentável quando há 18 clubes na I e II Ligas. Na II Liga, os orçamentos dos clubes são perniciosos. Ou seja, não têm capacidade de receita para os recursos que têm. Nos direitos audiovisuais, a mudança é drástica após a descida de divisão. Só clubes como o Chaves ou o Marítimo têm essa grande capacidade financeira.

A disparidade é muito grande e a alteração dos quadros competitivos é a solução para isso. Porque o objetivo é tornar os clubes que já são grandes em Portugal mais competitivos lá fora e tornar os clubes intermédios, como o Vitória SC, o Santa Clara, o Sporting de Braga e o Famalicão, mais competitivos. E isso faz-se reduzindo-se o número de clubes e alterando-se o calendário desportivo para, por exemplo, Benfica, FC Porto e Sporting em vez de jogarem a Taça da Liga em janeiro, estarem a competir na Liga dos Campeões. O Benfica tem dois jogos fundamentais para a Champions em janeiro e não pode estar preocupado com uma final four. A Taça da Liga tem de ser ajustada para outro lugar e seria muito interessante como evento inicial da época desportiva.

Consigo obter mais receitas aliviando a carga desportiva e a logística desportiva. Isto para tentar ganhar essas receitas que são extraordinárias. O resto são receitas ordinárias. Acho que nós conseguimos fazer mais com os patrocinadores. O naming do estádio já deveria ter sido implementado. Ninguém vai chamar o Estádio da Luz de Allianz Arena. Vão chamar Estádio da Luz. Não acho que haja esse trauma e é dinheiro que entra. Se tivesse entrado há 10 ou 15 anos, já tinha entrado algum dinheiro. Portanto, acho que se consegue aumentar as receitas.

Está disposto a vender parte da SAD a terceiros para financiar o clube?

Estaria se tiver um objetivo estratégico desportivo para esse efeito. Temos de perceber algumas coisas na SAD. A Lenore é o novo acionista minoritário do Benfica. Tem um objetivo supostamente, de acordo com o site deles, que é desportivo. Não os conheço. Acho que o Elliot Hayes, que é um membro da Lenore, é a pessoa mais conhecedora do desporto. Se ganhar as eleições, quero falar com ele para perceber o papel da Lenore e porque é que adquiriram as ações.

Depois, temos um acionista que é o José António dos Santos que tem interesse em vender. Não quer continuar a agregado ao Benfica, enquanto acionista já o deu a entender. Pessoalmente é que não quer vender ao Benfica, ele não demonstra essa abertura para vender ao Benfica. Não percebo porquê. Quer vender caro, tudo bem e tem legitimidade para isso. As ações são dele. Mas acho que seria um belo exemplo de benfiquismo, querendo sair e deixando de ser acionista, que pudesse chegar a um acordo com o Benfica para que o clube pudesse comprar 16% de ações.

No pressuposto de conseguimos comprar mais ações, aumentando a participação do clube e da SGPS dentro da SAD, acho que, aí sim, vale a pena ir à procura de um parceiro estratégico para captar um investimento segmentado para o desporto. Sendo esse investimento feito na SAD, só pode ser para o futebol, não para comprar e vender jogadores, mas para apostar a nível europeu. Por exemplo, para consolidar a hegemonia do Benfica em Portugal e apostar, a nível europeu, num brilharete do Benfica e tentar, de uma vez por todas, ganhar uma competição internacional. Portanto, não fecho a porta a investimento estratégico. Mas, para isso, tenho que captar mais ações dentro de casa.

Leia AQUI a segunda parte da entrevista de João Diogo Manteigas ao Desporto ao Minuto

Nas próximas semanas o Desporto ao Minuto vai publicar as entrevistas feitas aos candidatos à presidência do Benfica. Até ao momento, Rui Costa, Luís Filipe Vieira e João Noronha Lopes não manifestaram disponibilidade em responder às nossas perguntas. 

Leia Também: "Vieira falou em clima de medo, mas Pedro Proença mete medo a alguém?"

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/desporto/2849360/representamos-uma-rutura-geracional-com-o-passado-recente-do-benfica#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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