Saara Ocidental: EUA insiste que comecem "discussões sem demora"
- 27/10/2025
A posição da diplomacia norte-americana surge nas vésperas de uma votação, no Conselho de Segurança da ONU, sobre a continuidade da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (MINURSO), em que é proposta a renovação do mandato, que termina a 31 de outubro, por mais seis meses ou um ano.
"O Presidente [Donald] Trump deixou claro que todas as partes devem envolver-se em discussões sem demora, utilizando o plano de autonomia de Marrocos como a única base para uma solução justa e duradoura para o diferendo", afirmou à agência espanhola Europa Press um responsável do Departamento de Estado norte-americano.
Quanto ao futuro da MINURSO, a mesma fonte limitou-se a indicar que Washington "avalia constantemente" se esta missão das Nações Unidas contribui para "o avançar as prioridades de 'America First' (América Primeiro)" do Presidente norte-americano, que, no seu segundo mandato, reduziu drasticamente os fundos destinados à ONU e às suas missões de paz.
Os EUA estão a trabalhar no projeto de resolução que será submetido a votação na quinta-feira no Conselho de Segurança. Segundo avançaram alguns meios de comunicação social, o texto final apoia as posições de Marrocos e o plano de autonomia, propondo uma renovação do mandato por apenas seis meses, e não por um ano, como tem sido habitual até agora.
Perante estas informações, a Frente Polisário, movimento político que luta pela independência do Saara Ocidental, advertiu na semana passada, numa carta enviada ao embaixador russo junto das Nações Unidas, que, se o texto for aprovado tal como está, não participará em qualquer negociação promovida pela ONU com base nesse documento e cessará a sua cooperação com a MINURSO.
A Rússia durante o mês de outubro assume a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU.
Entretanto, numa recente entrevista à estação norte-americana CBS, o enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkooff, afirmou que a administração republicana norte-americana está "a trabalhar neste momento em Marrocos e na Argélia".
"Haverá um acordo de paz, do meu ponto de vista, nos próximos 60 dias", acrescentou, sem adiantar mais pormenores.
O Departamento de Estado não comentou as declarações de Witkooff, que geraram grande expectativa, não sendo claro se se referia à rivalidade histórica entre Rabat e Argel -- que romperam relações diplomáticas no verão de 2021 -- ou, mais concretamente, à questão do Saara Ocidental. A Argélia apoia as pretensões da Polisário.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, assegurou em abril passado, após reunir-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Burita, que o plano de autonomia é a "única base" para resolver o conflito, reiterando a necessidade de diálogo entre as partes e sublinhando que Washington está disposto a facilitar progressos nesse sentido.
A 21 de outubro, num comunicado, a Polisário mostrou-se "disponível" para iniciar negociações de paz "diretas e sérias" com Marrocos, "de boa-fé e sem condições prévias, sob os auspícios das Nações Unidas", com vista à realização do referendo de autodeterminação assinado pelas partes em conflito na sede da ONU, em 1991.
Numa carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente da República Árabe Sarauí Democrática e da Frente Polisário, Brahim Ghali, reiterou a disponibilidade do movimento de libertação para alcançar uma "solução pacífica e duradoura que preveja a autodeterminação do povo sarauí", conforme as resoluções pertinentes da ONU, "e restabeleça a paz e a estabilidade regionais".
A ex-colónia espanhola é considerada um território não autónomo em processo de descolonização, sobre o qual os sarauís pedem a realização de um referendo de independência, definido pelas partes em 1991, enquanto Marrocos defende uma maior autonomia da região sob soberania marroquina.
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