Ultraortodoxos em novo protesto em Israel contra recrutamento militar
- 27/10/2025
Muitos manifestantes usavam chapéus amarelos, cor que simboliza as manifestações que exigem a libertação dos reféns israelitas na Faixa de Gaza, e usavam 'slogans' e palavras de ordem semelhantes.
"Devolvam-nos já à yeshiva!", lia-se em vários chapéus, numa referência às escolas de estudos da Tora e do Talmude.
Ariel Shamai foi detido na semana passada pela Polícia Militar depois de se ter recusado a prestar serviço militar, que é obrigatório durante dois anos para toda a população israelita maior de idade, exceto para os estudantes ultraortodoxos.
No entanto, no seguimento da ofensiva militar na Faixa de Gaza, desde 07 de outubro de 2023, o Governo aprovou reformas que também se aplicam aos cidadãos religiosos, apesar da oposição dos partidos ultraortodoxos que integram a coligação liderada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
"Acusam-nos de usar os símbolos dos reféns, mas levaram Ariel da sua casa. Os reféns também são nossos. Estudámos por eles, rezámos por eles, para que pudessem sair do cativeiro", observou o rabino Sholom Ber Sorotzkin, diretor da rede de yeshiva Ateret Shlomo, uma das organizações envolvidas no protesto, noticiou o jornal The Times of Israel.
As autoridades israelitas emitiram 54 mil ordens de recrutamento militar para membros da comunidade ultraortodoxa Haredi no final de julho, apesar das tensões e protestos contra o serviço militar obrigatório para estes judeus.
Na quinta-feira, o partido ultraortodoxo Shas anunciou a renúncia a todos os cargos no Knesset (parlamento israelita), reivindicando a isenção dos membros da sua comunidade do serviço militar.
"Quando a situação dos estudantes de yeshiva estiver resolvida, o Shas regressará aos cargos no governo e no Knesset", afirmou o partido num comunicado divulgado pelo jornal Ynet.
Em julho, o Judaísmo Unido da Tora, partido ultraortodoxo com sete lugares na coligação de Netanyahu, anunciou a saída do Governo depois de ter tido conhecimento do projeto de lei promovido pela deputada do Likud, Yuli Edelstein, que incluía penas severas para os refratários.
Pouco depois, o Shas anunciou também que seguiria os mesmos passos, embora tenha continuado na coligação e mantivesse até à semana passada a presidência das comissões do Knesset.
Em 1948, depois da guerra da independência, foi dada aos ultraortodoxos a oportunidade de ficarem isentos do serviço militar, num acordo que inicialmente abrangia apenas algumas centenas de estudantes, mas que se foi alargando em grande escala numa comunidade estimada em cerca de 15% da população e que deverá aumentar substancialmente nos próximos anos, devido à elevada taxa de natalidade.
No ano passado, uma decisão do Supremo Tribunal declarou que as isenções ao recrutamento e que permitiam aos judeus ultraortodoxos estudar a tempo inteiro em escolas religiosas, com apoios do Estado, eram inconstitucionais.
A tensão começou a subir à medida que as ordens de recrutamento foram sendo distribuídas e perto de 90% não compareceram, levando a que os parceiros dos partidos ultraortodoxos colocassem em causa a própria viabilidade de um executivo já em equilíbrio precário.
A isenção militar dos ultraortodoxos é uma questão controversa em Israel, sobretudo desde o início da ofensiva na Faixa de Gaza, que levou o Governo a prolongar a duração do serviço militar obrigatório e a mobilizar dezenas de milhares de reservistas.
Em setembro passado, milhares de estudantes ultraortodoxos foram desmobilizados pelas autoridades israelitas, no seguimento de protestos que bloquearam as entradas de algumas das principais cidades do país, incluindo Jerusalém e Telavive.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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