Viu "Zootrópolis 2"? Nova personagem pode ter sido inspirada neste homem
- 04/12/2025
Se calhar ainda não o viu, mas (quase) de certeza que já ouviu falar na sequela do filme de animação "Zootrópolis 2", que chegou aos cinemas portugueses há exatamente uma semana. E a nova personagem, Gary De'Snake? Há a possibilidade de ter sido inspirada numa pessoa real - ou, pelo menos, é isso que Gary Goldman alega.
"Eu não sou o único que vê uma ligação", defendeu o homem de 72 anos, que trabalhou a vida inteira em Hollywood, ao The New York Times.
Os amigos que, como ele viram o filme recentemente, têm-lhe enviado mensagens ("OMG", lê-se em algumas, o que traduzido significa "Ó meu Deus") - e até e-mails já recebeu a falar sobre o assunto.
Algumas pessoas dizem até que os olhos expressivos da cobra apresentada no filme são semelhantes aos do próprio Goldman.
Gary sabe que não é o único a possuir este nome no mundo e também tem a noção de que, à primeira vista, uma alegação deste género pode soar um pouco como uma teoria da conspiração - mas há, de facto, alguns detalhes que deixam a dúvida pairar.
Goldman apresentou dois filmes à Disney semelhantes a "Zootrópolis"
Goldman trabalha em Hollywood há mais de 40 anos. Começou por trabalhar em documentários, mas depois seguiu para a escrita de guiões, onde participou nos filmes "Big Trouble in Little China" (1986); "Total Recall" (1990), com Arnold Schwarzenegger; "Basic Instinct", mais conhecido em português como "Instinto Fatal" (1992); e "Minority Report" (2002), dirigido por Steven Spielberg e protagonizado por Tom Cruise.
Com um currículo de filmes bem sucedidos, em 2000 e, de novo, em 2009, Goldman apresentou uma ideia para dois filmes (um live-action e outro animado) à Disney. A premissa prometia explorar se "as sociedades conseguem viver de acordo com ideais utópicos e julgar e creditar os outros de forma justa e como indivíduos, e não como estereótipos" - uma ideia semelhante à do primeiro filme de "Zootrópolis".
Após ver o filme em questão, Goldman entrou com uma ação em tribunal, em 2017, contra a Disney, alegando que a empresa copiou o seu título, "Zootrópolis", e até que usou os seus designs e arte para o mundo e para as personagens. O juiz, no entanto, não lhe deu razão e decidiu arquivar o caso.
As semelhanças, segundo o mesmo, "são poucas, aleatórias e superficiais", argumentou. Goldman e a sua equipa jurídica recorreram da decisão. Perderam.
Enquanto recorria da decisão original, o Goldman processou a Disney num tribunal estadual por quebra de um contrato "implícito" e concorrência desleal, entre outros - mas também aí perderam.
"Não concordámos com algumas das conclusões legais, mas aceitámos a decisão", afirmou Judith, a esposa de Goldman. "Achámos que tinha acabado e seguimos em frente com as nossas vidas."
Novo filme aborda o roubo de ideias
E depois, "Zootrópolis 2" chegou aos cinemas.
Apesar de todas as emoções negativas associadas ao primeiro filme, Goldman ficou fã da história e, portanto, quando a sequela chegou ao grande ecrã correu para os cinemas para ver a continuação. Saiu de lá profundamente inquieto.
O filme, recorde-se, apresenta (pela primeira vez) répteis neste mundo cinematográfico, com Gary De'Snake, uma serpente, a assumir o papel de uma das personagens principais.
(Alerta! A informação que se segue contém spoilers.)
A premissa da sequela aborda uma disputa entre os habitantes de "Zootrópolis" sobre quem é que criou originalmente os planos da cidade, e, em particular, as paredes de alta tecnologia, que permitem que animais de diferentes habitats convivam no mesmo espaço.
Eis que surge Gary De'Snake a fazer uma alegação polémica: os créditos pela invenção do sistema foram roubados aos seus antepassados.
No fim do filme, a cobra consegue provar que foi a sua bisavô a ter a ideia inicial, e que, para encobrir o roubo, todos os répteis foram banidos da cidade.
"Porque é que criaram esta personagem - um tipo simpático chamado Gary - que tem razão ao dizer que ele, e a sua família, foram roubados?", questionou Goldman. "É uma espécie de confissão? Um easter egg incrivelmente caro? Como é que isto foi aprovado pela Disney?"
Judith conta que alguns dos amigos do casal, que também trabalham em Hollywood, ficaram zangados em nome deles, considerando que a sequela é quase como uma forma de a Disney 'esfregar sal na ferida' e regozijar-se por ter vencido os processos. No entanto, nem ela nem o marido veem a situação dessa forma.
"Na verdade, nós estamos numa posição muito estranha, a dizer aos nossos amigos que isto pode não ser aquilo que parece: pode ser alguém a tentar fazer o correto", explicou, notando que a personagem em causa é 'pintada' como uma pessoa honesta e genuína.
Talvez por isso mesmo, o casal não tenha "grande apetite" para um novo processo contra a gigante multinacional.
O The New York Times contactou a Disney sobre a situação, que se recusou a comentar. De igual forma, Jared Bush, que escreveu o guião da sequela, também recusou comentários.
Numa entrevista em outubro, no entanto, Bush falou sobre o porquê de ter dado o nome "Gary" à nova personagem em "Zootrópolis 2".
"Ele chama-se Gary, porque eu acho que Gary é um nome hilariante", confessou. "Peço desculpa a todos os Garys do mundo. Mas várias vezes ao longo dos anos, quando estou a escrever uma personagem que é boa pessoa, chama-se Gary", explicou. "É sempre o nome que uso para personagens doces, que não são conflituosas."
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